segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Quando a Bolha Estoura

Esses dias, mais uma vez, estava a conversar com alguns amigos sobre minha fé. Costumo escrever aqui sobre mim, minhas dificuldades e vitórias. Neste post não será diferente. Não posso esconder minha preocupação com os segregados, aliás, porque me considero um deles. Muito já li sobre a igreja contemporânea, sobre farisaísmos, sobre desigrejados (acho horrível essa palavra), sobre feridos pelo caminho, sobre o cristianismo que tem matado muita gente e sobre essa coisa que alguns chamamos de "bolha". 

Um dia, a minha bolha estourou. Penso que a de todos um dia irá estourar. Se não aqui nesta terra, talvez perante ao próprio Criador. Sou dessas que nasceu na igreja e até hoje permaneço. Tenho 32 anos e até hoje não estive fora da comunhão com os irmãos e nunca pretendo estar. Mas preciso externar que apesar de me considerar segregada por algumas circunstâncias da vida, eu fiz e faço questão de estar lá. Lá, não é apenas um endereço de uma igreja local. Lá é meu lugar de identidade. Desde então, não mais estive ou servi em uma igreja apenas por amor aos pastores, por amor aos irmãos ou por vontade própria. Na verdade, tudo que fiz e faço no Reino e pelo reino é para Senhor do Reino. Não, não é frase clichê. O amor pelos irmãos e por mim mesmo, cresce no caminhar. Penso que o combustível para que meu amor não esfrie seja não me permitir parar.

Tive - e ainda tenho, inúmeras razões para me destruir e para abandonar minha fé. Mas, tenho comigo algo mais forte que meus medos plausíveis e minha natural sensação de fraqueza e impotência. Prefiro raso a profundo, mas vivo constantemente na profundidade porque por muitas vezes já perdi de vista a praia e sei que nessas águas a morte por afogamento é impossível. Acontece, que por vezes a areia queima em meus pés enquanto penso, oro, vejo e encontro outras pessoas e amigos que ainda não chegaram naquele lugar. Respeito e amo. Como os amo!

Essa "bolha" é o lugar de proteção que encontramos dentro de uma religiosidade que nos é enxertada de maneira paulatina e que nos destrói - conscientemente ou não. Preciso afirmar uma verdade que muitas das vezes fazemos questão de desconsiderar: não há nada que eu possa fazer de bom que me faça merecer o céu. Nada! Tenho a vida eterna garantida em Jesus através de um favor que eu não merecia. A cruz era minha. Hoje, posso ser chamada de filha, sou herdeira de Deus e coerdeira de Cristo. E, essa nova vida de fé é por Jesus. Pura graça! Isso basta; é isso que me faz estar nos cultos; isso me faz comer o pão e tomar o cálice com todos e com alegria; isso me faz lavar os pés do meu próximo; isso me faz perceber que minha "bolha" estourada me deixa mais perto daquele que para alguns pode ser considerado desigrejado, mas pra mim é parte do corpo, pois a igreja é um só corpo e percebo que o desigrejado não pode ser considerado assim porque seria absolutamente impossível admitir que o estômago não precisaria do rim, ou que o dedo indicador da mão direita não precisaria do fêmur esquerdo, mas porque tem a mesma história de fé que eu, é meu irmão. Isso me faz perceber que minha "bolha" estourada me deixa mais perto daquele igrejado constante, que também é parte do corpo não porque frequenta todos os cultos mas porque tem a mesma história de fé que eu, é meu irmão. Se é igreja sempre será, onde estiver, sempre será! Se aquele a quem tenho a honra em Cristo de chamar de irmão está na lama é meu dever ir acolher. Se aquele a quem o Senhor constituiu ovelha de Seu rebanho está perdida é meu dever não sossegar até encontrá-la. Quando a "bolha" de um religioso estoura é porque ela estava realmente inchada o suficiente para colocar sua religiosidade em seu devido lugar. Mais cedo ou mais ela estouraria. Ela é frágil como toda bolha é. A religião não pode me levar para eternidade de vida. Jesus o fez.  

Embora eu me considere uma pessoa religiosa, tenho real consciência de que a liberdade que Cristo me dá é plenamente verdadeira. Sou o que sou porque sou livre para ser o que eu quiser. Sou o que sou porque escolhi ser. Sem bolha alguma de proteção, sem máscaras, sem dever favor algum a homens, em um lugar onde nada me impede de estender minha mão em favor do outro - qualquer outro! Sou o que sou porque escolhi fazer morada nesse lugar secreto, num esconderijo, numa habitação que não está apenas nas letras do Salmo 91, mas em minha vida diária. Amo a Bíblia, amo a igreja (onde quer que ela esteja) e o Noivo dela é minha maior paixão. Amo ser igreja. Amo a certeza que me move: meu Noivo breve vem!

Jesus morreu por toda a humanidade. Jesus vive por toda a humanidade. Jesus virá buscar a igreja. 

Quando a bolha estoura, eu encontro imediatamente um espelho onde meu olhar se assemelha ao do Mestre.  

Um comentário:

  1. Cléo, sábias palavras. Melhor do que as palavras é a atitude que se decide ter. Vejo a raridade da sua alma por meio de suas escolhas e submissão. A Paz do Senhor esteja contigo.🙌🙌🙌🙌

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