Lembro-me bem da velha cecizinha cor-de-rosa. Lembro-me de quando com rodinhas bambas, meu pai sugeriu que eu as tirasse. Decidi que sim. Tive medo, mas ele prometeu que estaria ali segurando em minha garupa. Aceitei o desafio. Meu pai realmente estava ali. Ouvi repetidas vezes: "-Pedala filha, estou segurando". O guidom tremia, mas obedeci. De repente, me dei conta de que estava pedalando sozinha. Aprendi! Muitos joelhos ralados, eu sei. Mas aprendi. Nos primeiros dias, meu pai estava sempre ao meu lado. Ajudava-me nas quedas, e não mais segurava em minha garupa. Afinal, já era um recurso desnecessário.
Nas pedaladas da vida, muitas das vezes, o grande erro que cometemos é insistir em utilizar recursos desnecessários. Em algum momento, tal fator nos foi preponderante, mas hoje já não o é. Admitamos. Já aprendemos. Só nos resta força de vontade para o aperfeiçoamento. E, ainda assim queremos ser tratados com regalias. Perda de tempo. Tempo de aprender com experiências novas que não acontecerão se deixarmos que nos tratem como quem ainda não aprendeu. Crescer dói. Sem dor não há crescimento. Nada de extraordinário acontecerá se não estivermos dispostos a correr riscos.
Na vida é bem assim. Joelhos ralados, um tombo aqui outro ali. Depois de um certo tempo, manter o equilíbrio torna-se mais fácil. O que não lhe isenta de uma queda inusitada. A trilha nem sempre nos favorece. O importante é seguir.