domingo, 3 de agosto de 2014

Nostalgie

"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados
insanos por aqueles que não podiam escutar a música".

(F. Nietzsche) 

Penso que nunca chorei tanto que nem aquele dia. As lágrimas pareciam brotar da minha alma resistente até ali. Eram lembranças demais pra uma mente só. De repente, como que numa enxurrada, grande parte dos melhores momentos que vivi foram gritando como crianças em dia de aula de quarta-feira durante a última chamada da turma da manhã.
-  Presente!
Cada pensamento, um a um, como resposta de indagações encubadas diziam estar bem perto, ainda. Era inverno. Frio para o corpo e também pra minha alma. Era início de agosto e se aproximava a primavera, estação ingrata; ingrata e fugaz! Em setembros fui noiva, mulher, amei, enlouqueci, assumi paixões e voei mais de onze horas pra um lugar que me levou pra mais perto de mim em seu início de outono encantador. Hoje as lágrimas não cessaram e quando as tenho, menos tímidas.


Uma dessas lembranças são as de minhas mãos. Parece tolo, mas não para uma pianista. Toco piano desde os 10 anos de idade. Perceber as mãos envelhecendo é ver despontar, bem na pele, mais uma dessas perguntas que a vida nos traz: o que minhas mãos teriam produzido? Sei bem o que fiz com elas. Também sei o que deixei de fazer. Queria ter fotografado minhas mãos ano após ano. Tudo bem, as observei muito. Estão fotografadas em minha mente. 

É canção de marinheiro, é suspiro de verão brotando da terra, é flor-de-viúva do jardim que me aguarda, é assobiador que quer voar. 

Volto ao meu piano desafinado no canto daquele lugar que prefiro chamar de meu. Já é tarde e há lei que proíbe tocar agora. Vou apenas olhar para minhas mãos e sorrir.

Aliás, posso dançar em silêncio. Ser julgada insana? Dá-lhe Nietzsche!

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